Na época das eleições em 2018, postei um texto no meu Facebook fazendo alguns apontamentos e questionamentos sobre as atitudes e falas do atual presidente Jair Bolsonaro, não somente as suas propostas políticas, mas ao fato de o mesmo associar sua campanha e o governo a sua religião. Recebi, na época, muitos comentários preconceituosos e agressivos, a grande maioria de pessoas que eu nem sequer conhecia (visto que deixei o texto público e muitas pessoas o compartilharam). Vale citar que esses comentários, em sua quase totalidade, traziam carência de argumentos fundamentados, que não dirigissem ofensas pessoais como único recurso pobre e infantil de defender seu posto de vista. Mas, apesar dos desrespeitos, fiquei grato por ver comentários concordando com minhas colocações, principalmente de pessoas queridas, inclusive professores da faculdade. Atualmente muitos mais comentários do atual presidente poderiam ser acrescentados ao texto, mas me limitarei a postá-lo como o escrevi no dia 24 de setembro de 2018. A eleição dividiu muitas opiniões e pessoas, e deixou-nos escancarados muitos preconceitos que julgávamos há muito terem sido superados. Vale considerar que postei esse texto antes do segundo turno, visto que muitos passaram a justificar seu voto com a única explicação de se posicionarem contra o PT. Para quem tiver interesse, sugiro ler também o post sobre “Psicologia das Massas e Análise do Eu” que traz um resumo desta obra de Freud, e nos ajuda a compreender a intolerância e a violência atuais, que trazem traços infantis, animalescos e inconscientes. Vale citar a importância de respeitarmos opiniões diferentes da nossa e de nos posicionarmos ética e politicamente diante do atual cenário que vivenciamos em nosso país.
Algumas pessoas que admiro e pelas quais tenho grande respeito têm postado sobre a escolha de seu candidato presidencial referente ao Bolsonaro. O que me incomoda não são somente as propostas dele, mas o fato do candidato, e de muitos de seus seguidores, associarem seus argumentos a “Deus” e aos valores cristãos. Como apoiar um candidato que afirma que “bandido bom é bandido morto” quando Jesus pediu que oferecêssemos a outra face e perdoou até seus algozes? Como apoiar alguém que defende o porte legal de armas se Jesus se deixou ser beijado por seu traidor e pediu que Pedro guardasse sua espada na bainha? Como apoiar um candidato que afirma que a marginalidade não tem haver com falta de educação e que criminosos não tem recuperação, quando Jesus ensinou que devemos amar nossos inimigos e prometeu ao ladrão que foi crucificado ao seu lado que estariam juntos no paraíso? Como apoiar alguém que considera um ser humano como irrecuperável se Jesus nos ensinou sobre a misericórdia e a compaixão? Como apoiar alguém que defende a ditadura e torturadores quando Jesus foi vítima de tortura e de uma violência fatal? Muitos que se dizem cristãos não compreendem que Jesus esteve ao lado das pessoas que eram marginalizadas e excluídas pela sociedade de sua época. Jesus esteve ao lado dos leprosos, dos cobradores de impostos, dos estrangeiros, dos pecadores, e de tantos outros violentados e a margem da sociedade. As pessoas que mais se escandalizaram com as atitudes de Cristo foram os fariseus e doutores da lei. As maiores críticas de Jesus foram contra os comandantes religiosos de sua época, que usavam o nome de “Deus” para se exaltar, para garantir seus privilégios, justificar seus argumentos e condenar as pessoas. Me pergunto do lado de que pessoas Jesus se encontraria hoje... Muitos dos que defendem Jesus atualmente, se escandalizariam com as suas atitudes naquela época. E porque Jesus foi morto? Porque, assim como tantos outros, mexeu com os interesses daqueles que detinham o poder naquela região, porque foi a favor daqueles que eram descriminados, dos oprimidos, dos menos favorecidos. Ele foi morto em nome dos bons costumes, da ordem, da moral, ele foi morto em nome de “Deus”. Uma das frases do Bolsonaro que mais me chamou a atenção foi a seguinte:
“As minorias tem que se curvar às maiorias. A lei deve existir para defender as maiorias. As minorias se adequam ou simplesmente desapareçam.”
Como se dizer cristão apoiando argumentos assim? Já ouviram a parábola do bom samaritano? Já leram a passagem do filho pródigo? E a história da mulher adúltera? Como se dizer cristão apoiando alguém que desconsidera direitos humanos? Sem contar as incoerências nos discursos do candidato. Ele diz que não é homofóbico, mas já deu várias declarações dizendo que não contrataria um motorista gay pra levar o seu filho na escola, que não gostaria de ter um casal gay como vizinhos, que não devem haver professores gays nas escolas, que numa transfusão de sangue é preferível o sangue de um heterossexual ao de uma pessoa homoafetiva; ele chegou a dizer em uma entrevista dada a revista Playboy que preferia ter um filho morto a um filho gay. Ele afirma que a homossexualidade é um desvio de conduta fruto de falta de surra e de pais que não estiveram presentes. Pra quem estuda Psicologia não dá para simplesmente ouvir esses argumentos e ficar calado. Ele afirma que não existe homofobia. Pra mim isso é o mesmo que afirmar que não existe racismo. Sabe aquele história de kit gay? O Ministério da Educação nunca produziu cartilhas com intuito de ensinar crianças de 6 anos sobre sexo, mas muitas pessoas acreditam e ficam horrorizadas com essa história. O que pensar então de alguém que distorce fatos, que diz não ser homofóbico mas tem atitudes que expressam o contrário? O que mais é incoerente entre seus discursos e seus atos? Ele afirma que não houve Ditadura Militar. Ele diz que não foram os portugueses que escravizaram os negros, mas os próprios africanos foram os responsáveis. Ele critica uma comunidade quilombola alegando que eles estão acima do peso, e que nem sequer deveriam conseguir procriar. Ele votou contra os direitos trabalhistas para empregadas domésticas afirmando que essa conquista aumentaria o desemprego. Ele apoia a redução da maioridade penal para 16 anos, mas diz que sua intenção seria que a redução fosse para 12 anos. Vocês sabem as implicações que isso teria na área da infância e da juventude? Vocês já conversaram com Defensores Públicos que atuam na área criminal? Sugiro que o façam. Ouçam a história de jovens infratores e de suas famílias antes de criar uma opinião sobre a redução da maioridade. Ao discutir com a deputada federal Maria do Rosário em 2014, ele disse que não a estupraria porque ela não merecia, chamando-a de vagabunda. Considero que a deputada também o ofendeu, mas questiono o nível de maturidade de um líder político que responde a ofensas com outras piores. Como se dizer cristão fechando os olhos para tudo isso? E depois de tudo ele ainda diz que defende a família. A Constituição Federal Brasileira, o Estatuto da Criança e do Adolescente, e tantas outras legislações defendem a família. Vejo algumas pessoas defendendo com afinco um candidato que passaram a conhecer há pouco tempo. Às vezes não conhecemos direito nem pessoas com as quais convivemos por anos. Ah, se essas pessoas defendessem esse tal Jesus de Nazaré que alegam seguir com a mesma paixão com que defendem um candidato com o qual nunca nem sequer conversaram. Lembremos que Jesus se curvou diante de seus discípulos, lavou seus pés, e disse que os últimos serão os primeiros. Cuidado com lobos travestidos de cordeiros, cuidado com “falsos profetas”. Por favor, não apoiem um candidato que tem tantas falas preconceituosas e se considerem ainda cristãos.
Tiago de Sousa Medeiros
コメント